Ex-Palmeiras escondeu grave doença e isso o levou a morte

Alex Alves, um habilidoso atacante de futebol conhecido por sua velocidade e comemorações inspiradas na capoeira e passagem pelo Palmeiras. Além de seu estilo descontraído em campo, ele também se preocupava com sua aparência, sendo considerado um “metrossexual” nos anos 2000. 

No entanto, Alex Alves tinha uma personalidade introspectiva e apreciava a escrita e a leitura. Sua maior ligação era com sua filha, Alexandra, com quem compartilhou um segredo: sua doença. 

Alex lutou contra um problema na medula óssea por anos, mantendo seu diagnóstico em segredo até seu falecimento em 2012, aos 37 anos, deixando Alexandra, então com 13 anos, e sua mãe em Belo Horizonte.

Alex Alves: e sua jornada de sucesso no futebol

Alex Alves, um talentoso atacante, foi descoberto aos 12 anos por Paulo Carneiro, então presidente do Vitória. Sob a gestão de Carneiro, as categorias de base do clube foram reestruturadas.

Alex formou uma forte amizade com Vampeta, ex-volante, e juntos foram fundamentais para levar o Vitória ao vice-campeonato brasileiro em 1993.

Logo em seguida, Alex e o meio-campista Paulo Isidoro foram negociados com o Palmeiras. Em São Paulo, Alex conquistou o título brasileiro em 1994, mas teve pouco espaço e foi emprestado para Juventude e Portuguesa, onde se destacou. 

Transferido para o Cruzeiro em 1998, viveu sua melhor fase, ganhando títulos e chamando a atenção de clubes europeus. Alex assinou com o Hertha Berlim, e a família se mudou para a Alemanha quando sua filha Alexandra tinha apenas três meses.

Altos e baixos no Hertha Berlin e a polêmica decisão de voltar ao Brasil

Alex teve altos e baixos durante sua passagem pelo Hertha Berlin em 2000. Problemas extracampo, incluindo infrações de trânsito, levaram a imprensa a considerá-lo uma das piores contratações da história do futebol alemão. 

Apesar disso, ele marcou 35 gols em 108 partidas, sendo o destaque o famoso gol do meio de campo contra o Colônia. 

Com seis meses restantes em seu contrato, Alex decidiu retornar ao Brasil e assinou com o Atlético-MG, mas sua decisão foi contestada por Nadya. As divergências financeiras e o estresse resultante levaram à separação do casal. 

A divergência entre os dois teria sido o motivo da separação, “Ele chegava em casa muito nervoso por causa da falta de pagamento. E eu falava: ‘está vendo? A gente não poderia ter ido embora'”.

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No ano de 2004, Alex deixou o Atlético-MG e transferiu-se para o Vasco, mas infelizmente, enfrentou novamente a falta de pagamento no clube carioca. Em 2005, o atacante decidiu retornar ao Vitória, contando com o apoio do presidente Paulo Carneiro. 

“Ele jogou comigo a Série B de 2005. Quis botar ele em forma para jogar em alto nível. Mas ele não tinha a cabeça, estava separado da mulher. A família fez ele voltar ao Brasil. Foi o maior erro da vida dele”.

Durante o retorno do jogador ao Vitória, Carneiro resolveu questões relacionadas a cartões de crédito, entrando em contato com o sogro de Alex, que detinha todo o seu dinheiro. Até mesmo a compra de um carro foi necessária, uma vez que o atleta já não possuía mais um veículo. 

“Ele me chamava de pai. Quando voltou para o Vitória, fui resolver problemas com cartão de crédito e liguei para o sogro, que estava com todo o dinheiro dele. Comprei um carro, porque nem carro ele tinha mais.”

Após deixar o Vitória em 2006, Alex passou por diversos clubes, como Boavista (2007/08), Fortaleza (2008), Kavala na Grécia (2008/09) e União Rondonópolis (2010). 

Durante esse período, ele já estava doente, porém, manteve o segredo de seu diagnóstico oculto da maioria das pessoas ao seu redor.

A batalha silenciosa de Alex Alves

Alex Alves sofria de uma doença chamada hemoglobinúria paroxística noturna, que afetava gravemente seu organismo. Descobriu-se a condição em 2007, quando tentava retornar ao futebol europeu. 

Sua situação financeira se agravou, enfrentando dívidas e altos gastos para sustentar a família. Poucas pessoas sabiam de sua doença, incluindo sua filha, Alexandra. 

Após a separação de seus pais, Alexandra manteve uma relação próxima com o pai, mesmo com a distância entre eles. Durante uma visita a Salvador, ela percebeu que ele não estava bem.

“Eu tinha uns 9, 10 anos, e ele começou a ter problemas nos rins, teve que fazer uma cirurgia. Eu ia muito para Salvador visitá-lo e lembro direitinho dele trocando curativos, a minha tia Cleide cuidando dele. Ele sempre foi discreto, porque era uma pessoa muito vaidosa. Mas eu fui percebendo que ele estava cada vez mais fraco, a coloração da pele foi mudando, e ele me contou que estava doente. Ele estava mais fraco, com menos dinheiro, aquilo tudo mexeu muito comigo”.

Alves desmentiu boatos de leucemia em 2008, mas posteriormente buscou tratamento no Hospital Geral da Bahia. Com a saúde em declínio, o jogador viajou quase 2.000 km em busca da cura para sua doença.

O tratamento e a morte

Alex Alves chegou ao Hospital Amaral Carvalho em Jaú, referência nacional no tratamento de câncer e transplantes de medula óssea pelo SUS, em 18 de setembro de 2012. 

O jogador foi internado para realizar um transplante de medula óssea, a única opção de cura para sua doença. A doação veio de um dos irmãos e o procedimento foi realizado em 5 de outubro. 

Durante o período de internação, Alex ficou em isolamento e não podia receber visitas, mas manteve contato com seus fãs através do computador.

Apesar do sucesso do transplante de medula óssea, Alves enfrentou complicações graves, incluindo a doença do enxerto contra o hospedeiro. 

Infelizmente, ele não resistiu e faleceu em 14 de novembro de 2012, devido à falência múltipla de órgãos. Os amigos do futebol só tomaram conhecimento dos problemas de saúde de Alex quando a imprensa começou a relatar o transplante em meados de outubro.

“Eu não sabia que ele estava doente, nem o Dida, nem o Paulo Isidoro, nem o Vampeta, os melhores amigos”, conta Paulo Carneiro.

O hematologista responsável pelo tratamento de Alex Alves ressalta a participação ativa dos amigos do jogador durante o período de internação.

“Todos eles ajudaram muito. Eles me caçaram, me acharam em Jaú e me ligaram para perguntar o que era possível fazer para ajudar. Essa solidariedade dos ex-jogadores foi muito importante para o Alex, ele se sentiu muito protegido.”.

A declaração de Nadya à imprensa, afirmando que Alex precisaria de dinheiro para o transplante, incomodou o médico Mair Souza e a equipe do hospital.

“Todo o tratamento dele foi gratuito, pelo SUS. Naquele momento, não era a grana que ele precisava — isso ele iria precisar depois. Ele precisava de uma coisa que infelizmente não teve, que era a resposta adequada ao tratamento”.

Atendendo ao pedido de Alex Alves, o Vitória foi responsável pelas cerimônias de despedida em Salvador, onde suas cinzas foram lançadas ao mar.

Dez anos depois: recordações de Alexandra

Em 2022, celebraram-se dez anos desde a morte de Alex Alves. Alexandra, agora uma mulher de 23 anos e mãe de Maitê, quase três anos, guarda a lembrança de um homem forte, que não queria mostrar fraqueza e que nunca perdeu sua essência. 

É essa imagem que ela deseja transmitir à neta que nunca teve a oportunidade de conhecer Alex Alves.

“A Maitê é a cara dele, e eu tenho certeza que ele iria se apaixonar por ela. Quero sempre falar dele para ela, do pai que ele foi. Tenho muito orgulho da história dele, da história que ele fez. Quero ser um pouco do que ele foi”.

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