Ex-jogador do Palmeiras precisou de vaquinha pra passar por operação
No mundo do futebol, onde a fama e os altos salários são comumente associados aos jogadores profissionais, nem sempre é fácil enxergar a realidade por trás dos holofotes.
Uma história recente ilustra esse lado B do futebol, revelando as dificuldades e desafios enfrentados por alguns jogadores.
Gualberto, ex-Palmeiras, precisou recorrer a uma vaquinha online para custear uma importante operação
Gualberto Luís da Silva Jr., um jogador experiente com passagens por diversos clubes, sempre esteve presente nos jogos da várzea aos fins de semana. Com um currículo que inclui passagens pelo Palmeiras, Penapolense, Paysandu e Ferroviária, Gualberto sempre esteve em campo, disposto a jogar por diferentes times em busca de sobrevivência.
Os valores de sua participação variavam de R$ 250 a R$ 500, dependendo do jogo. Gualberto buscava se sustentar após um ano sem oportunidades no futebol profissional.
Com tantos jogos disputados, ele não se recorda do nome do adversário de 16 de abril de 2023, quando o desespero tomou conta de sua vida. No entanto, ele nunca se esquecerá do lance que marcou aquele jogo, defendendo a camisa do Martinica, time localizado na zona Sul de São Paulo.
“Era uma falta de longe. Nosso goleiro não quis barreira. O rapaz se preparou de longe, no estilo Roberto Carlos. A bola veio forte, bateu no chão e subiu. Eu fui de cabeça nela e meu companheiro de zaga com o pé. E acertou meu olho esquerdo. Fiquei tonto na hora. E não acreditei que de novo estava me dando mal”.
“Sim, em 2017, eu estava no Paysandu e em um jogo contra o Paraná, sem pancada, de forma espontânea, perdi 50% da visão e 100% da visão periférica. Eu só tinha o olho esquerdo e naquele momento não sabia de mais nada. Só incerteza e o medo de ficar cego”, conta.
Vaquinha solidária e apoio de jogadores do Palmeias
Após o incidente, Gualberto dirigiu-se rapidamente ao Hospital dos Olhos na Avenida Paulista, determinado a evitar repetir o drama que enfrentou em 2017, quando a demora em buscar tratamento adequado impactou negativamente sua recuperação.
No hospital, foi atendido por um oftalmologista e desmaiou, sendo necessário levar quatro pontos em seu rosto. A tomografia revelou um afundamento na órbita esquerda, e a recomendação foi transferi-lo para o Hospital Santa Catarina, onde a cirurgia seria realizada.
No entanto, o custo estimado de R$ 61 mil se tornou um desafio para sua família, que buscou opções pelo SUS no Hospital São Paulo, mas sem sucesso. A situação deixou-os em dúvida sobre como conseguiriam reunir tanto dinheiro.
“Eu ganhava R$ 25 mil por mês no Paysandu. Estava pagando R$ 3 mil em uma casa financiada. Quando perdi a visão direita, minha carreira caiu. Fui para o Nacional, Ferroviária e passei a ganhar no máximo R$ 2.800. Cortei plano de saúde e desisti da casa. No ano passado, minha filha nasceu no dia em que cheguei no São Paulo Cristal, da Paraíba. Esse ano, tive ofertas, mas não podia levar minha mulher, que está grávida e nem minha filha de um ano. Ia morar em alojamento. Desisti e fui para a várzea”.
Com sua carreira em declínio, os R$ 61 mil necessários para a cirurgia eram algo impossível de ser obtido. A família não tinha recursos para ajudar. A única opção viável foi criar uma vaquinha virtual. Em poucos dias, foram arrecadados R$ 40 mil, e o restante veio por meio de contribuições via Pix.”Muita gente me ajudou. O Moisés e o Thiago Martins, que jogaram no Palmeiras, ajudaram bastante”, revela.
Agora, Gualberto se vê assistindo jogos de futebol, olhando para a televisão e sentindo saudades do campo. Ele sabe que não há como voltar.
“Vou me recuperar em três ou quatro meses e procurar um emprego, voltar a estudar. Tenho uma família para cuidar. A Erica, minha mulher, é professora de Educação Física, mas está sem trabalhar porque está gravida da Júlia. E tem a Giovana, de um ano”.
Ainda Gualberto comenta sobre o seus sonhos.”Olha, o sonho de menino de ser jogador de futebol eu concretizei. Fui feliz. O que não consegui foi o sonho de ganhar dinheiro com o futebol. Esse, eu não cumpri.”
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